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Conversa Fiada

       Greve, greve, greve! Mais greve acontecendo nas universidades federais. Há pelo menos sete anos seguidos temos tido este acontecimento uma vez ao ano, sem nenhum resultado. A promessa é que, desta vez, tudo será diferente e os resultados finalmente serão conseguidos.

Honestamente: é duríssimo segurar o ceticismo neste ponto. Todos nós já estamos mais do que cansados de ouvir que "agora vai", e no fim das contas não vai. Neste caso então, fica pior ainda porque já se repetiu milhares de vezes.

DESTA VEZ, porém, insisto que as coisas são muito diferentes e realmente há uma chance de vitória. O país está cada vez mais no poço e o governo está vulnerabilíssimo a qualquer ataque. Se o ataque estiver partindo dos estudantes universitários e da classe média, duas classes que se confundem bastante e que possuem um grande poder de mudança, uma vez organizado, melhor ainda.

A greve dos professores e funcionários das universidades públicas ataca diretamente à classe média, cujos filhos compõe o grosso do corpo dicente destas universidades. E a greve não é somente nas faculdades, é de todos os servidores públicos, de hospitais a bancos. Como a classe média, importante grupo eleitoral, vai reagir a isto? Já tem que agüentar o racionamento e a alta do dólar. Indignação tem limite? Não sei, mas a oposição deve estar mais do que garantida nas eleições do ano que vem.

Entendendo o problema dos servidores, que não recebem aumentos à anos e cujos reajuste está sendo cortado este ano, os estudantes vão apoiar a causa. É capaz de seus pais acabarem por apoiar também, afinal querem seus filhos estudando e formando-se, não nas ruas, protestando.

Estou assistindo ao processo da greve nos últimos meses, e quem viu acontecer em anos anteriores garante que este ano é tudo muito mais organizado e forte do que em outros anos. É dificílimo que todos os pedidos dos grevistas sejam aceitos, isto nunca acontece, mas pelo menos tenho fé de que a vitória desta vez será grande, que vão conseguir muito mais do que em outras ocasiões. E eu vou apoiar, porque sei que sem o apoio geral, isto não irá a lugar nenhum, e ficarei preso mais uma vez com os céticos. (Adriano)

Você acha mesmo que isso vai mudar alguma coisa?

Na última Pesquisa do Abismo, perguntamos ao leitor deste zine qual a sua posição em relação à possível imposição da exibição da propaganda eleitoral gratuita às TVs a cabo. A maioria dos votantes expressaram-se contra esta medida, o que demonstra uma das três coisas: ou o votante não gosta da propaganda eleitoral gratuita, ou acha que este ato não contribuiria para a conscientização do povo quanto as eleições mais do que já o faz na TV aberta, ou ainda que tal atitude fere a liberdade de expressão dos canais a cabo. Vamos desenvolver estas três opiniões.

 

Já está bem claro que o povo brasileiro não se interessa pelo horário político da televisão aberta, o que é completamente compreensível. Como não se irritar tendo que assistir por uma hora a pessoas falando sem parar sobre nada que pareça muito real? São sempre aqueles mesmos candidatos fazendo as mesmas promessas e acusando uns aos outros sem ter fundos para isso. A única coisa que fazia o homem comum de manter a televisão ligada durante aquela hora era o candidato do PRONA, o Enéas, que por ter menos tempo no ar, falava pouco e emplacou a frase "Meu nome é Enéas!", que berrava em todos os programas; mas mesmo isso já cansou o espectador. Com o advento das TVs por assinatura, uma parcela da população passou a ter uma outra opção além de desligar o aparelho ou assistir àquilo. Isso com certeza contribuiu para baixar a audiência dos programas eleitorais, mas será que impô-lo aos canais a cabo vai fazer com que a audiência do programa volte a subir? Hoje, a maioria das pessoas que podem pagar por esses canais dispõe de Internet em seus computadores. Se não quiserem ver, vão desligar a televisão e entrar na Internet, ou ainda sair de casa e ir à algum lugar, como faziam antes. Se quiserem saber sobre os candidatos, vão entrar nos websites de suas campanhas.

 

Como acabamos de dizer, quem tem TV a cabo tem, na maioria dos casos, Internet também. Esta é uma parcela muito pequena da população ainda, são pessoas de classe média e alta. Tentar exibir a propaganda eleitoral gratuita para essas pessoas com a desculpa da conscientização do povo é ridículo. Sim, há muitas pessoas burras e superficiais nessas classes que precisam ser ensinadas sobre o valor do voto, mas ainda assim parece chuva no molhado. Essa parte da população tem acesso ao ensino de qualidade e conhece a história do Brasil e a importância da escolha livre, da democracia. Forçar sobre eles o horário político não adiantaria de muito, até porque a parte burra da elite, como eu já disse, não vai prestar atenção.

 

Os canais por assinatura, que uma vez já foram exaltados pela esquerda e cuja liberação foi dada como uma grande conquista anti-censura brasileira, vão aí perder um pouco de sua liberdade de expressão. Há muitos problemas com esta liberdade dos canais a cabo, que em grande parte não transmitem nada de útil ao telespectador, mas a imposição da propaganda eleitoral não vai contribuir muito para uma mudança de atitude. Mais do que trazer mais informatividade a esses canais, esta medida ameaça alienar ainda mais o público. O que acontece com os canais estrangeiros, como RAI International e BBC? Terão suas transmissões, feitas em outros países, cortadas para a exibição do programa? Imagine a confusão e revolta não só dos seus espectadores, mas também de seus produtores. Além do mais, na TV a cabo já existem alguns canais que se salvam, informam e conscientizam as pessoas, como o GNT, a GloboNews e o Futura.

 

Convenhamos: o horário político, como se apresenta, não conscientiza ninguém, apenas confunde a todos. Se os políticos querem que as pessoas prestem atenção às suas propostas de governo e aos seus discursos, eles devem repensar a fórmula de suas propagandas, pois o povo já cansou de ser enganado pela mesma porcaria e cada vez mais está notando as cartas repetidas jogadas pelos candidatos. Sem uma reformulação do discurso e dos aparelhos de divulgação, os partidos políticos podem continuar impondo seu horariozinho especial à TV a cabo, às rádios, à Internet, aos ônibus, à rua, à barriga de suas mães, que não vai adiantar, todo mundo vai continuar torcendo o nariz para eles. Rezemos por gente mais criativa na política!

                                           

PS: Este último parágrafo vale também para jogadores, técnicos e dirigentes do futebol brasileiro. (Adriano)

 

Ensaio:

                                       2001 janeiro - agosto

                 André Bürger

 

            O primeiro semestre do novo milênio, foi meio que desapontante, quando nos referimos à sétima arte. Tantas promessas e tantas decepções arcaram em nossos cinemas, nesse período.

Ao falar de tais decepções, me refiro ao cinema norte-americano. Sim, o mercado americano me decepcionou, um pouco, esse ano. Não que tenha sido um lixo, mas acredito que podia ter sido bem melhor.

O verão americano esse ano estava mais para inverno, talvez até um outonozinho. Na maioria dos filmes, eu saía com aquele ar de, “é foi legalzinho” ou então, “valeu mais pelos efeitos especiais” e assim vai...a lista de desculpas é grande.

Na tela grande, esse verão, vimos a macacada de Tim Burton dominar o homem. Vimos também os dinossauros de Spielberg, agora pelos olhos de Joe Johnston, fazerem banquete com carne humana.

Apesar de ser um grande fã de Jurassic Park, eu fiquei um pouco decepcionado com esse terceiro “passeio no parque”. Bastante aventura, pouca história, um típico filme de ação.

Mas como tudo tem seu ciclo, essa temporada também chegou ao fim. A nova era começou com Moulin Rouge, última produção da Fox, que traz nos principais, Nicole Kidman e Ewan McGregor.

Acho que pela primeira vez, eu me envolvi tanto com a história de um filme. A mágica tocou fundo meu coração e me deu orgulho em dizer o quanto eu gosto de cinema.

Eu poderia ficar laudas e laudas falando sobre cada fotograma do filme e como o diretor Baz Luhrmann, soube tão belamente aproveitar a história de Orfeu e transformá-la em um musical tão belo e romântico.

Meu propósito, pelo menos por agora, é outro. Aqui venho apenas mostrar que uma triste era, ou um simples semestre acabou e junto com o sucesso de Moulin Rouge uma nova era está apenas começando.